quinta-feira, 31 de março de 2011

Dona Mariquita

Infelizmente, por conta de uma doença degenerativa chamada Demência por Corpos de Levi, de sintomas muitos parecidos com o Alzheimer, se pedirem a ela para contar sua história, ela se perderia. Ultimamente a lembrança mais viva que ela tem é a do falecido esposo. Então, deixa que eu conto!

Dona Mariquita nasceu em 1927 na fazenda do Papai Izaías, nas proximidades da cidade de Valença, no interior do Rio de Janeiro. Vivia lá com a mãe (mamãe Ana), o pai e os irmãos. Foi educada por uma professora que ia até a fazenda ensinar ela e os irmãos a ler e escrever.

Certa vez, em uma festa de Igreja na cidade, conheceu o Moisés Lacerda e se apaixonou. Casou-se contra a vontade dos seus pais. No dia de seu casamento compareceram à cerimônia apenas sua avó, que sempre esteve ao seu lado e os pais do noivo. Mudou-se com seu marido para Paraíba do Sul, onde teve sua primeira filha. Depois foi se mudando para as cidades onde ele arranjava emprego e carregando as filhas. Até que chegou em Congonhas, Minas Gerais e por lá ficou. Moisés foi trabalhar numa mineradora, a Companhia Siderúrgica Nacional. Em 1965 ela teve sua última das 5 filhas, Rita de Cássia.

Moisés era o amor de Mariquita. Por ele, ela fazia de tudo. E ele, um boêmio. Chegava em casa bêbado, frequentava os bordéis da redondeza e não fazia questão de educar as filhas. Mariquita, muito prendada, fazia de tudo para cuidar da família. Vendia bolo, verduras, chouriço; criava porco e fazia panos de prato de crochê. Abriu a pensão Lelé da Cuca, onde alugava quartos para rapazes solteiros que trabalhavam nas minas e servia refeições. Um dia Moisés saiu de casa e foi morar num sítio que comprou com o dinheiro que guardava e nunca ofereceu a Mariquita. E o pior: foi morar com uma prostituta que tirou de um bordel que frequentava. Mariquita ficou sozinha.

Talvez as cinco filhas que ela teve nunca tenham percebido o valor que aquela mulher tem. Talvez elas nunca tenham entendido como ela sofria. Ela tinha sim seus problemas. Gênio forte, difícil de lidar com sua teimosia. Mas foi com seu esforço e sua dedicação que pode oferecer-lhes um lar, boa comida, educação. Talvez não tenha sido a melhor mãe do mundo.

Mas pra mim, é a melhor avó do mundo.

Minha avó Mariquita é um exemplo de mulher pra mim. Uma mulher que nunca foi valorizada como deveria. E o pior: talvez não tenha sido tão amada como amou meu avô. Ama, até hoje, incondicionalmente. Mas ela nunca deixou de tocar sua vida, de um jeito ou de outro. Sei que cometeu seus erros, mas nada que a distanciasse de ser humana, de ser mulher.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Atitude: substantivo feminino

Sempre gostei desse título. E ele pertence a um blog. Essa semana o Meninas Improváveis vai falar sobre mulheres que foram além. Já citamos grandes nomes. Mas além dessas heroínas "famosas", existem as anônimas, as que fazem a diferença no seu dia a dia, em sua própria vida e das pessoas que estão ao seu redor. Hoje o texto falará sobre uma delas. Em vez de eu escrever sobre alguém, fiz um convite para que ela mesma dissesse tudo o que pensa. Não se acanhe pelo tamanho do texto. Valerá a pena cada linha.

Dai apresenta:

Atitude: substantivo feminino (clique neste título e vá para o blog dela).


Compreendi o sentido da palavra filha única quando minha mãe se separou do meu pai em 1986.
Ano em que eles tentaram uma nova vida em Petrópolis, região serrana do Rio.

Alugaram nosso apartamento aqui do Rio e compraram uma bela casa.
Estudei o segundo semestre de 86 em uma escola de Petrópolis. Minha mãe ficava em casa, pois havia conseguido uma licença prêmio do trabalho.
Aquela era a primeira experiência da minha mãe como dona de casa.
A nova vida veio. E eles se separaram.

Nos 6 meses seguintes retornei à minha escola aqui do Rio e minha mãe às suas atividades profissionais.
Me lembro do quanto era ruim acordar as 4 da manhã para  todo dia vir ao Rio e estudar. 
Comigo no banco de trás do carro, minha mãe dirigia sozinha naquela serra escura e sinuosa. 
Era fria, muito fria a serra naquela época.
Ouvia minha mãe falando sozinha coisas que só agora eu compreendo. Coisas sobre o fato dela não ter abandonado de vez o trabalho, dela ter conseguido ser racional.
Eu ia absorvendo aquilo tudo. Ouvindo minha mãe e fazendo desenhos no vidro embaçado pela neblina. Pensando sozinha.

Eu adorava a casa de Petrópolis, mas também adorava meus amigos e parentes daqui do Rio. Então, eu sabia que estaria feliz onde quer que eu estivesse.
E foi muito com essa imagem que cresci: de que é possível apagar e redesenhar sob o vidro embaçado.

Meu pai sempre pagou a pensão em dia, e eu sempre estudei em colégio particular.
Não era lá essas escolas de nome...de prestígio...mas era um bom colégio de irmãs no subúrbio do Rio.

Nunca fui aluna nota 10. 
Nem 9 e nem 8.
E em 1989 eu repeti a sexta série em matemática.
Acredite se quiser, isso foi a melhor coisa que aconteceu na minha adolescência.
No meu primeiro mês na turma como repetente, eu já sabia que não estava amargando a repetência por acaso.
Eu tinha que ter repetido para conhecer as pessoas que conheci.

Na escola, com a minha nova turma, eu aprendi a ser artista.
Formávamos um grupo que praticava dança, que organizava eventos, encenava peças...que produzia, que criava.
Aos 16 anos eu fazia teatro para defender um troco.

O teatro começou a me cansar, pois no fundo eu queria ser como as minhas amigas que se divertiam aos sábados e domingos. 
Minhas primas iam à praia em Iguabinha e eu lá, encenando peça final de semana.
Aquilo na verdade me irritava.
Chegava segunda de manhã, todo mundo tinha feito uma parada maneira para contar na escola. E eu? Tinha trabalhado encenando peça.
Era maneiro, mas estava virando obrigação.
Eu não nasci para o teatro. O teatro era o meu trabalho e só.

Então, quando finalmente terminei o segundo grau, decidi que queria estudar turismo, porque meu sonho era viajar muito e trabalhar com eventos.
Idiotice nível 5. 
Quem se forma em turismo é quem menos viaja. 
Se eu tivesse feito entrevista para motorista de ônibus da Viação Cometa, talvez  tivesse viajado mais.

Na verdade, quando eu comecei a estudar Turismo e trabalhar em agência foi quando eu parei de viajar. 
O fato é que eu já organizava milhares de pacotes por conta própria, levava a galera para micaretas, para exposições agropecuárias, alugava casa na praia e fechava com um grupo...até para a Disney como guia eu fui. Eu com 18 anos botando moral numa excursão de adolescentes sem educação, que só tinham três anos a menos que eu. Eu carregava o peso daquela responsabilidade que hoje eu vejo que era absurda.
Odiei a experiência de trabalhar com turismo. Achei o mercado míope, fechado, limitado demais para mim (eu.me.achando).

Acho que se eu tivesse feito na época um teste vocacional, a psicóloga teria me encaminhado ou para um tratamento psiquiátrico ou para um Jornalismo, para um Direito ou para a Administração...que é para onde vão todas as pessoas que não sabem bem o que querem mas gostam de trabalhar produzindo alguma coisa.

Emprego, eu não encontrava.
Contatos, só merda. Só amigo pobre, família pobre.
Meu pai, militar da reserva. Minha mãe, funcionária pública recém aposentada.




Chegava nas entrevistas:
- O que você fez?
- Turismo. Mas já fiz um pouco de tudo e posso trabalhar fazendo outras coisas.
- O próximo!

Caralho.
Que merda era andar a segunda-feira inteira com o jornal embaixo do braço.
Enquanto nada aparecia, eu fazia uns bicos de promoção. 
Eu gostava da ideia de ser demonstradora e fazer com que o cliente enfiasse o produto dentro do carrinho de compras.
Tirava de letra. O teatro e as experiências com o público contavam a meu favor.
Toda promoção que eu pegava, fazia bem. 
Decorava todos os rótulos, batia metas, ganhava bônus. Taí um negócio que eu gostava de fazer.
Representei inúúúmeras marcas, em diversos eventos, nas lojas Americanas, nos mercados...passava 10 horas em pé fácil. Rindo.
Mo-le-za.

Só que é foda.
Estamos no Brasil, o país do subemprego.
E aí que se você decide estudar Direito, Engenharia, Medicina, você é bacana. E se você decide estudar para ser cabeleireiro, você é maluco.
Eu me sentia bem olhando as lojas, tomando conta dos produtos, ensinando para a dona de casa o modo correto de usar o limpador de vidros.
E até que ganhava bem sabe..como demonstradora, promotora...mas porra...por que era (ou é) tão mal vista a atividade?
Por que querem que a gente sinta vergonha de fazer algo digno?

Até a própria empresa que contratava, discriminava e menosprezava a capacidade não só minha, mas de várias meninas que estavam ali representando suas marcas.
Putz..a gente tinha contato direto com o cliente, a gente ouvia o cliente e podia contribuir muito mais do que ficar em pé em frente a um display. 
Desculpa se seus profissionais de Marketing, engravatados que não saem do ar condicionado, te disseram que a embalagem é boa. Eu te digo: não é. Os clientes não gostaram. E ponto. 
Acredite em mim que eu estou aqui, vestindo a camisa e dando meu suor, segurando na mão do seu cliente e você não. 
Lembro-me de ter dito isso uma vez a um diretor de sei lá das quantas de uma empresa que foi me inspecionar.

Alguns caras, mais atenciosos, consideravam... faziam anotações, mudavam com base no que eu insistia em dizer. 
Porque eu sempre fui franca. Eu sempre trabalhei de forma muito séria e querendo fazer o melhor. 
Só que depois que a parada dava certo e eu pleiteava uma recompensa, um reconhecimento por ter visto algo em meio a tanta cegueira...hã-rã...tá..bom..quem você pensa que é, demostradorazinha de merda? Volta para trás do balcão que é o seu lugar!

E aí eu cansei dessa porra. Cansei muito mais da bitolação mental de certas empresas que do trabalho em si. Cansei de pintar o quadro e entregar para um babaca que não vale a bosta do meu rabo assinar em baixo.

E novamente, lá estava eu trabalhando por conta própria. Tentando achar um buraco para respirar com o mínimo de dignidade. Porque nessa altura, minha gente..eu já tava balançando bandeira em troca de 30 reais nas eleições para o Conde - mesmo odiando aquele bode velho, distribuindo papel de Mãe Sarah trago a pessoa amada em 10 dias, vendendo bijuteria, fazendo pesquisa de opinião e por aí vai.

E minha mãe me cobrando um trabalho normal, fixo, numa empresa de 8 as 5 e com a carteira assinada.
E meu pai me cobrando que eu estudasse para um concurso público e passasse. E com que dinheiro pago o curso para concurso?
Porque eu sempre fui aluna nota 6, lembra?

E certa vez, fazendo um bico numa loja de grife famosa, tive um insight criativo.
Percebi uma demanda e comecei a tentar trabalhar com moda.
Gosto do tema, falta gente pra fazer..por que não?
Me juntei com uma amiga que amargava uma situação bem parecida com a minha e iniciamos umas produções independentes.
Caçávamos modelos pelas ruas do subúrbio, produzíamos desfiles, ralávamos feito filhas da puta...mas sempre terminávamos o dia satisfeitas.
Começamos a produzir alguns eventos de repercussão e cavar um lugarzinho na mídia.
Eu estava certa, a ideia era boa e o nosso trabalho crescia a cada dia.


À medida que o lance com a moda crescia, mais a minha mãe me desestimulava.

Ela dizia que minha única solução era um concurso público. Que eu já estava velha para fazer bicos e tinha que arrumar logo uma firma para trabalhar.
Eu atendia o telefone e ao invés de alô eu ouvia: E aí? Arrumou? - Era meu pai, que eu não via há meses me ligando.
-Eu vou bem pai.
- Tá. Mas e o emprego? Arrumou ou não?????

E foi então que num tropeço, desses que eu poderia ter limpado os joelhos e seguido em frente, eu desanimei.
Estava cansada, afinal de contas eu morava na casa da minha mãe. Dependia dela nesse ponto. E ela deixava isso bem claro todo santo dia. 

Eu sabia que não arrumaria um emprego. 
Estava com 25 anos, me sentia uma velha em qualquer entrevista.
Ninguém queria saber o que eu tinha conseguido e conquistado durante todo este tempo. 
Ninguém nunca me perguntou que livros eu li, que programas e filmes eu assisti, que lugares eu frequentava.
Ninguém estava interessado em saber o quanto eu era honesta e como eu era como pessoa.
Nesta etapa da minha vida, eu tive a plena certeza de que não passamos de números.
- Quantos anos de experiência?
- Quantos anos de inglês?
- Quantos cursos?
Foda-se se você é dedicada e esperta. Dane-se sua força de vontade e espírito empreendedor. E daí que você é honesta? Guarde tudo isso pra você.

Eu estava num ônibus quando vi uma faixa estendida sobre um curso de Administração que selecionaria trainees ao final de dois anos.
Lembro-me como se fosse hoje. 
Eu anotei o número e comentei com a minha mãe, que é claro me criticou:
- Você vai fazer mais um curso? Mais um curso? O que vc precisa é trabalhar..é arrumar um emprego e blá, blá, blá.

De fato era tudo estranho. Uma faixa...esquisito. Se fosse bom não estava anunciado...
Mas sabe quando algo te diz alguma coisa?
E a coisa era boa.
Tratava-se de um novo modelo, uma experiência que eles fariam e como as vagas ainda não estavam preenchidas, resolveram pintar uma faixa.
Os selecionados receberiam uma espécie de bolsa auxílio e trabalhariam na multinacional de segunda a quarta, as quintas e sextas fariam o curso. 
Tudo por conta da empresa.

Nessa altura do campeonato minhas opções eram:
- Tentar essa merda cheirando a furada e ver qual vai ser, afinal Administração é legal;
- Dar o cu na Lapa;

Por questões de princípios, escolhi a primeira opção.
Puta sorte a minha.

Fiz provas seletivas. 
Não estudei para nenhuma porque não havia como. Eram de raciocínio lógico, conhecimentos gerais e redação.
Enfrentei entrevistas e mais entrevistas.
Chorei ao término de todas elas.
Meu inglês não era tão bom a ponto de sustentar uma entrevista inteira.
Olhava os concorrentes...nêgo com 18 anos, de família rica, que já tinha morado no exterior.
Caralho.
O que eu estava fazendo ali?????
Até hoje eu não sei, mas me ligaram um dia dizendo que eu poderia ir lá que eu estava dentro do esquema.

Estudei com afinco os dois anos de curso.
Fui trainee de uma multinacional que para chegar lá eu levava 2 horas e meia dentro de um ônibus.
A bolsa auxílio nem era tão ruim e foi praticamente o meu salário no período do curso, mas para complementar a renda eu vendia bolo caseiro e perfumes.

Me formei entregando um projeto final que guardo até hoje de tão lindo.
Ao final do curso e das atividades de trainee, a empresa poderia optar por me contratar ou não.
Eles optaram por ficar comigo.
Mas eu disse não.
Eu havia passado por vários setores, conhecia a empresa, sabia que meu trabalho não iria aparecer. Sabia que aquela empresa estava sufocada financeiramente embora a alta direção negasse.
E decidi ir embora.

Minha mãe quase infartou.
Foram dezenas de pessoas apontando o dedo na minha cara e dizendo: você é uma maluca irresponsável! Deus te dá uma oportunidade dessas, e você joga fora. Você se acha! Acha que é melhor que a empresa!!!
Sim, era isso.
Eu, no fundo do meu coração, sabia que eu era melhor que a empresa.
Não tenho vergonha em admitir isso. Não cabia ali no momento a humildade.
E de novo eu torno a desenhar e apagar os riscos no vidro embaçado. Sozinha.

Para não correr o risco de ficar desempregada novamente, aceitei uma vaga como secretária.

E logo vieram as críticas.
- Fez um curso desses para virar babá de chefe! Saiu de uma multinacional para ser secretária e atender telefone!

De boa: melhor coisa que eu fiz na minha vida. Ponto.

Tive uma oportunidade de ouro aonde muitos só enxergavam terra.
Trabalhei num setor onde errar era humano, onde aprender fazia parte de qualquer progresso, onde fui acima de tudo valorizada como ser humano.
Fiquei um ano como secretária e depois passei a assumir novas tarefas. 
Fui promovida e passei a me inteirar mais com os projetos da empresa.
As pessoas acreditaram em mim.
Parte do meu processo é a entrega. Por conta disso me matriculei na faculdade de Engenharia.
Se fosse uma escola, eu teria feito pedagogia. Se fosse um hospital, eu teria feito medicina.

Aí agora, aquela menina da nota 6, que todo ano ficava de recuperação em matemática, está mais uma vez dando a cara a tapa.
Nasci para isso?
Provavelmente não. Mas quem sabe?
Eu nasci para ser feliz, para me sentir bem onde quer que eu esteja, para fazer as pessoas felizes ao meu redor.
Não acho que temos que amar o nosso trabalho.
Acho que temos que dar valor àquilo que fazemos. Acho que devemos vestir a camisa e lutar pelo melhor.
Saí da multinacional por não acreditar na empresa e em seus valores, logo em seguida ela anunciou que tava mal das pernas e teve de ser vendida.
Para mim não foi surpresa. Os demais funcionários se sentiram enganados.

Não devemos ter medo das mudanças.
Quem fica parado, apodrece.
É melhor cair e germinar, que apodrecer numa árvore aparentemente bela.
O medo muitas vezes nos impede de quebrarmos um ciclo e iniciarmos outro, de rasgar uma página e escrever outras, de apagar com a mão o desenho mal feito no vidro embaçado.

Mas se tem uma coisa que aprendi sozinha foi isso: riscar o vidro embaçado e fazer outro desenho.

terça-feira, 29 de março de 2011

Rosa Parks

Rosa Parks, negra e costureira em 1955 nos Estados Unidos da segregação racial, um capítulo a parte na história de Martin Luther King, nem de longe foi uma coadjuvante!

Depois de um dia exaustivo de trabalho, Rosa entrou no ônibus, pagou a passagem e sentou-se no primeiro banco que encontrou vago. Acima de sua cabeça havia uma placa: “Somente para brancos”.

Quando passageiros brancos entravam no veículo o motorista ordenava que os negros levantassem e dessem seus lugares a eles. E os negros assim o faziam, era lei, mas Rosa se recusou.

“Vou viajar sentada, sou uma senhora de idade, os cavalheiros que viajem em pé”.

O motorista ameaçou chamar a policia, mas a senhora não obedeceu.

“Hoje não, meu filho. Tenha santa paciência, isso não é justo. Absolutamente não é justo!”

Ela foi presa. Teve sua fiança paga pela Associação Nacional para a Emancipação das Pessoas de Cor e enfim libertada.

Ok. Com ou sem esse episódio, algo teria sido feito pelo Mártir por seu povo, contudo, tal como Luther King, esta mulher entendia seu valor e que em nada era inferior a ninguém, branco ou não, rico ou pobre, homem ou mulher, por isso Lei nenhuma esmagava sua crença de que podia...

Então, deu-se um boicote aos ônibus e nenhum negro usava o transporte. Porém, para pormenores, vide vida de Martin Luther King, porque o que cabe aqui é: uma atitude consciente, seja de uma rosa ou de um cara-pálida, é o que de fato difere as pessoas.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Indira Gandhi

Em um país cheio de divisões como a Índia, em que nascer mulher é um motivo de desgosto para toda a família; em que mães, pressionadas pela sociedade, matam suas próprias filhas para não serem abandonadas por seus maridos; em que a mulher é vista apenas como um encargo financeiro pelo pagamento de seu dote; em que à mulher não se é permitido pensar, e sua vida é decidida por seus pais e seu marido; em que não muito tempo atrás, viúvas eram queimadas vivas junto com o corpo de seus falecidos maridos; uma mulher se sobrepôs a todos esse cenário: Indira Gandhi.

Indira era filha do primeiro-ministro indiano, Nehru, e cresceu em meio a cenários políticos caóticos. Teve uma boa educação, ao contrário da maioria das mulheres indianas de sua época, estudando bom tempo na Europa. Casou-se com um homem de uma religião diferente da sua, um homem não escolhido por seus pais e que não pertencia à sua casta, o que era uma grande afronta para toda a população indiana.

Quando seu pai se tornou primeiro-ministro, Indira começou a ajudá-lo, exercendo o cargo de presidente do Congresso indiano, e, a partir daí, foi crescendo na política e adquirindo o respeito da população. Sempre lutou pelas causas que acreditava. Chegou a ser presa algumas vezes, mas em 1966, tornou-se primeira-ministra da Índia – o cargo mais alto do governo. Ocupou esse cargo até ser assassinada em 1984, por membros extremistas de sua guarda pessoal.

Não discutirei as estratégias e políticas de Indira, que muitas vezes foram duvidosas, já que foge do meu foco. O que realmente me impressiona e me encanta nela é a sua superação. Em uma sociedade totalmente patriarcal, em que mulheres são praticamente seres inanimados, Indira conseguiu passar por cima de preconceitos, lutar pelos seus ideais, e, o mais importante, conseguiu ser ouvida. Tornou-se uma das mulheres mais importantes do mundo.

Quando perguntada sobre as diferenças entre homens e mulheres, Indira respondeu: "Alguns dizem que a mulher não tem tanta força quanto um homem. Não sei, não posso dizer nada, nunca fui homem, mas eu tenho, com certeza, mais força física do que qualquer um daqui".

Indira conseguiu chegar aonde todos duvidavam que uma mulher pudesse chegar por acreditar em seu potencial, independentemente de seu sexo, sua casta, sua cor. Já é hora de todos pensarmos como ela e deixarmos a podridão do preconceito de lado.

domingo, 27 de março de 2011

Erin Brockovich

Eu sei que todo mundo aqui já ouviu falar dessa mulher, afinal, somos jovens, antenados, assistimos quase tudo que Hollywood nos vende e desde uma linda mulher acompanhamos a filmografia de Julia Roberts, certo? Então, galera antenada. Quando tínhamos uns 15 anos e vimos esse filme, prestamos atenção de que se tratava de uma história baseada em fatos reais?

Erin, divorciada, precisava de um emprego para sustentar os filhos, e o conseguiu em um pequeno escritório de advocacia. Leiga, era apenas uma assistente, mas sua paixão pelo trabalho permitiu que tivesse um papel crucial no caso de um crime ambiental que prejudicou várias famílias nos Estados Unidos, famílias estas que nem pensavam em lutar por seus direitos, mas acabaram persuadidas por Erin.  Como o caso precisava de mais visibilidade e de pessoas influentes, foi passado a um escritório de advocacia maior, que quase afastou Erin devido a sua falta de formação, contudo o conhecimento detalhado que ela tinha da situação e das famílias afetadas evitou que isso acontecesse.

O filme, como todos os filmes baseados em fatos reais, oculta detalhes vergonhosos da protagonista, que possivelmente já foi viciada em drogas  e, especula-se, amante do chefe. Além disso, Erin era uma mãe ausente, uma mulher barraqueira e torrou os 2 milhões de dólares que ganhou de honorários. Outra parte que envergonharia o sexo feminino, é que várias vezes, Erin usou seu charme e poder de sedução para conseguir informações sobre o caso. Isso importa? Sim, importa, eu admiraria mais uma mulher que tivesse feito o que ela fez e carregasse também um histórico impecável, mas acho que históricos impecáveis são exclusividade de filmes de Hollywood.

Ainda assim, quantas piriguetes conseguem fazer o que Erin fez? Quantas amantes de advogados trabalham em prol de alguma coisa? Quantas mulheres sem escolaridade vão além daquilo que delas é esperado? Independente do histórico omitido no filme, creio que trata-se sim de um caso exemplar. Erin Brockovich foi muitas vezes subestimada pelo estereótipo da mulher bonita e rodada, praticamente uma piriguete, mas nem por isso deixou de ser inteligente, perspicaz e até mesmo correta. Quem se envolveria em uma causa parecida, correndo o risco de não chegar a lugar algum e sabendo que seria menosprezada devido ao seu desconhecimento da legislação? E quantas vezes homens e mulheres deixam de se envolver com causas importantes, apenas porque não se importam com as outras pessoas?

É difícil conseguir informações, além das colocadas no filme, a respeito de Erin Brockovich, ainda assim, considero que ela é um exemplo de mulher que foi além do esperado, e deixou muita gente que a subestimou pagando língua legal.  E você? Menospreza o potencial de quem baseado no estereótipo ou no sexo? E surpreende quem, fazendo além daquilo que calculam que você é capaz de fazer? 

sábado, 26 de março de 2011

Não precisa remar não, ele rema pra gente !

     Oportunista, sem caráter, aproveitadora, interesseira, acomodada, preguiçosa. Muitas palavras que resumem as atitudes de muitas pessoas por aí e porquê não focar nas mulheres, que também fazem isso também, sem pesar algum, com seus parceiros.
     
     Vamo lá, uma coisa é você se predispor a ajudar alguém, ou seja, prestar socorro, assistência, auxiliar quando ela precisa, outra, bem diferente, é querer se relacionar com alguém somente por que é cômodo e também por que: “Se eu tenho o outro para remar para mim, para que eu vou remar sozinha”. Muitos se confundem ou se fazem de desentendidos, o que é pior, perante a caridade ou ajuda alheia. Isto me irrita! Existe por aí, muita gente folgada e aproveitadora que se acha no direito de fazer esse tipo de coisa, passando a culpa, ainda, para o outro. “O problema é dele, se ele não percebe, eu é que não vou falar nada”.
     
     No entanto, como sou uma pessoa bem otimista e acredito que o futuro traz para as pessoas o que elas merecem (mais cedo ou mais tarde), esse tipo de gente não dura muito tempo nos caminhos esburacados da vida, que logo providencia desde uma simples avaria no pneu, até um comprometimento de toda a suspensão, causando assim, uma parada obrigatória, inesperada e bem cara no bolso e na consciência dessa pessoa, que tenho minhas dúvidas enquanto considerar, alguém que faça isso, uma Pessoa com um “P” bem grandão.